Sou brasileira, mineira, belo-horizontina e amo minha terra!

Sou jornalista, escritora, cantora, atriz, poeta, artesã, filha, mãe, mulher.

Acredito na capacidade do ser humano em ser feliz: hoje. Acredito em Deus e no amor. Acredito no sonho, na ação e no sucesso.

Acredito em Maria e Madalena.

Acredito na luz do Espírito Santo, na esperança e na perseverança.

Acredito no indivíduo e sua capacidade de se aperfeiçoar

Acredito na arte e na transmutação, na alma e no coração, na paz e no perdão.

Acredito no condor, no beija-flor e no arco-iris...na força do fogo, do sol, da lua e dos ventos, da água e da terra, dos lobos, das águias...e muito mais!

Acredito na luz do sagrado feminino, na teia abençoada dos círculos de mulheres, das que foram às que virão. Na inspiração do encontro que cria, cura, fia e confia.

O FEMININO EM MIM surge para partilhar esse meu olhar feminino que ACREDITA!

Grata pela sua presença especial.

Márcia Francisco

TRAVESSIA DOS TEMPOS, Márcia Francisco


(capa: aquarela do saudoso amigo Fernando Fiuza, arte eterna)


(orelha: reprodução de carta de Paulinho Pedra Azul)




(Texto de abertura)
“Li com atenção seus versos.
Você fala da natureza instável da mulher e eu me vejo pequeno para entender o universo feminino.
Diante do mundo da mulher, eu me recolho insignificante
perplexo e tentando apreender esses gritos que ecoam na floresta interior.
Vigília, calmaria, silêncio e solidão
          se transformam em desejo e prática de convivência e amor.
Vocês são, você é
poesia em estado de cio diante da vida e dos homens (nós, esses coitados)
Um beijo do Fernando Brant.”

(Fernando Brant, 29 de agosto de 2002 – sobre leitura de Travessia dos Tempos)

      

travessia dos tempos



Sonoridade



Vou te amar


com toda música


que houver em meu coração.



Os sete anjinhos e você



Mergulho nos fragmentos


Do que restou em meus pensamentos


Das profundezas das águas


límpidas, por vezes, turvas


surge o primeiro anjo


Sua auréola se abre em círculos  duplos


que lado a lado, completam seu sorriso



Próximo à superfície,


o segundo anjo se faz perceber


num vôo rasante sobre as águas lívidas


nuvens margeam o meu rio


E, saltitante,  o terceiro anjo aparece por ali


Seus olhos me olham, ressabiados


e ele se oculta, enquanto,


tímido, convoca seu parceiro,


amigo das dúvidas:


o quarto anjinho.


Este, se senta à beira


E mostra a leveza do outro que passa.


Uma anjinha!!!


Nossa! Como é leve o seu voar.


Mas, como breve é seu toque


ainda não ensinou a tocar.


Cinco sonhos e um olhar.



E trêmulas, minhas águas


se ocultam em ondas descontínuas



Rindo, o outro surfa por ali...


No meio de “música, artes e novos talentos”


que inspiram...


e piram...



Sereno


um sétimo anjinho silencia


e acalma suave


um mar, que anoitece


misterioso e múltiplo


nas cores únicas de suas águas,


transparentes.


Durmo.










Sussurro



No cair da madrugada


Ecoam  vozes


Que sussurram amores


Todos teus


Intensos e tranquilos



Feliz



O meu amor é assim


Sem promessas de amor


Alguns desejos ocultos


Uma vontade de amar


Uma vontade de tocar


E me encontrar


Perdida em teus braços



Estações



Do meu coração


Abrem-se


Verões, outonos


E primaveras de viver


E eternos invernos


A te procurar



Distâncias



Sexta-feira numa cidade grande


Meu coração ainda pulsa


Uma inspiração de terça



Ano bom

O calendário na parede,
Novo, não virou meu coração
Deu meia noite
E bem que fiz uma oração
Manhã chegou
Lembrei seus olhos
Na hora do abraço
Olhei a chuva
E comi pão
Com geléia de amora!



Celestial



Oh! Sim!


Ainda amo


Calada


Olho as asas do meu anjo!


Me deu as costas, olha!


E riu, matreiro, atrás do arbusto


Quase me convenceu


Com sua mentira oculta


Que não amava


Agora, me põe no colo


Afaga meus cabelos


Me ensina o tato


Depois roça minha pele


E me dá um beliscão


Dor: aprendo o sentimento


Beija a minha boca com gotas de vinho tinto


Que despeja nos meus lábios


Paladar


Meu anjo caminhou sob a lua cheia


E, suado, trouxe cheiro de mato no peito


Ofegante


Despertou meu olfato


Depois sussurrou no meu ouvido


Umas palavras loucas de delícia


Mas disse não saber amar.


Ouvi.



Dolores

Dor em si menor


Lágrima em  lenços de papel


Flores em vaso de cristal


Peixes em lago incolor







Mortal



Um sentimento confuso


Chama e afasta


A fala corta e abraça


A língua insana derrama


O veneno



Veneno



As más línguas


Aquecem


o caldeirão


do desnecessário.



Ausência



No tempo da espera


Reina a poesia


Do lugar


Onde se falou de amor


Paira o toque suave


Da canção interrompida



Nova estação



Falhas incidem sobre nossos encontros


Desencontros delineiam um novo tempo






Peregrinação



Fronteiras não limitam meus pensamentos


Abro caminhos no espaço sideral


E encontro você em passeio silencioso


Caminhando em praça estrangeira



Oblíquo



Tenho medo de nós


Tão perto e tão distantes!







Medida



Tudo o que é demais


impõe seus próprios limites



Folha em branco



Hoje é o dia do desencontro


E, sozinha, nem a mim encontro


Lágrima não há


Pois, tarda, até mesmo, a minha poesia



Eclipse



O sol


Bate a minha porta


Trancada


Com chaves de algodão


Entra, invade


Queima


Prepara a pele


Para um novo verão



O amor


Dócil fantasia


Verdade frágil


A libertar meu coração



Se sabes


O que afinal pressinto


Não  venhas


Acalentar-me a ilusão


Só peço


Que voltes para o seu mundo


Como a chuva


Depois do sol de verão









Despedida



Desenho


Feito a giz de cêra


No jardim de infância –


Coberto de preto



O menino correu prado adentro


Colheu alfaces e rabanetes


Depois dormiu sob o abacateiro


Que deu fruto temporão


E caiu


No chão.



Desvelo



A solidão atravessa


com lança ferrugem


O inesperado



O futuro é vazio e desvela


a vastidão oca.


O verso abrevia o silêncio



Longa espera


Travessia dos tempos



Pedra na fruta


que pára o broto


Na escuridão da terra


Chão abaixo



Desabafo



Dei para deitar-me sobre mim


Nas muitas tardes sem você


Meu corpo se contorce em ais


Sufocados de silêncio


Num ponto, minha mão se retorce


Na lembrança da exata medida


Que completa meu corpo


Habita meu peito


Meu fogo arde em chamas


Na turbulência desejada


De suas águas em cachoeira


Que antes me inundavam


Corpo e alma


Freme nas ancas a liberdade


Paira no sono o sonho


Pára no dia o desejo


Aguarda no tempo


O intocável


Em voto de reclusão


Devolvo a  abstinência


Como forma de aproximação


Não porque quero, como sabe


Meu corpo cede ao impulso


E sólido, atua no seu


Dos pés ao céu


A energia do nosso encontro


No centro da terra


O rasgo da sua ausência


(que não sofre: se talha em ôco)


Presença tão terna


Que lúcida permeia meus caminhos


- Vislumbre de amor 


(hoje o meu é seu)


e convivência -


Translúcida define os seus


Transforma os meus


Renega os seus


Adia o sol


Formata o breu


Sem mesmo rumo, segue o seu.






ROMPIMENTO



Arrancou da alma


A calmaria


Calou em prosa


O verso



SILÊNCIO



Coração  miúdo


Telefone mudo



(PRESERVAR)



Ouvir


Silenciar


Concordar


Morrer?



Marinha



Meus olhos já não mais se encantam


com sentinelas  lívidas


flutuando firmes em um barco circular



BREVIDADE:



passou!



Vigília



Você deve ouvir


o silêncio dos corredores


para saber onde


construir o seu castelo



Para sempre



Rapunzel


Jogue fora suas tranças


Sai da janela e vem viver


Cuida do cabelo


Cuida do brilho dos olhos


Mas lembra da janela, Rapunzel


A vida precisa do mistério


A vida precisa do sorriso, Rapunzel!



Porto inseguro

Olhar fixo e destreza estática


Chuva mansa deslizando nas janelas


A mãe derrete goiabada caseira em um microondas


Depois acende dezenas de velas no santuário da cidade



A pele mais escura já inspira a metamorfose



Poeta morto ressurge em esperanças estaleiras


De terra firme navio novo se constrói


São menores as âncoras


Há que deixar a baía.







Lucidez



As respostas só não são dadas


àqueles que desprezam a consciência



Essência



O que nos mantém vivos


É a respiração


Ela é como um fio


Que nos liga ao umbigo de Deus



Tambor



Meu coração bate forte


Quando te vê



Meu coração bate calmo


Quando te quer






Presença



Sua luz é terra, vermelho que invade,


Mas, sempre pede licença,


Marrom pedaço de canela


Sobre um tiramissu.



Azul



Meu verso não ousa rimas


transforma o tom


Fica no bom,


tranquilo 


e leve


Suave som de


Silêncio.



Atemporal



Para nada é preciso ter pressa


Há tempo para tudo


Se há tempo para o sonho,


Há tempo para a realização


E se houve tempo para a espera


Há tempo para o conhecimento


A arte do encontro


Pleno
A íntima ceia

Doze mulheres de mãos dadas dançam nuas em torno de uma fogueira.


Nas mãos das doze, doze gravetos riscam o ar com chamas reluzentes.


Elas dançam e pedem pelo bem de sua tribo.


Elas cantam e afastam os maus espíritos.


Na mata, um clarão se abre em luz ofuscante.


Uma lebre cruza a estrada na escuridão.


Da luz, sobem duas asas brancas.


Da roda, se ouve o som das sete gerações precedentes.


Na tenda a oitava dá a luz à próxima.


O fogo,  em brasa se desfaz.


A madrugada silencia os sons.


O feminino reina no silêncio em oração.


As doze mulheres se sentam, entreolham-se e fecham os olhos do corpo.


Uma coroa de doze luzes cintila.


É o cerne do espírito que fortalece a humanidade.


Esse ritual se fez necessário para dissolver as trevas que reinavam no infinito.


Transportar as dores na cruz da absolvição.


Um perfume de lótus invade a manhã que surge com o sol.


As mulheres despertam do sono e seguem seus afazeres.


É dia e elas lavam, no rio, as roupas de seus maridos.









Cio   


                                                  


Natureza instável a da mulher


Dia ri, outro se não chora,


Silencia


De volta ao self ou em busca de respostas


no infinito,


Cresce em conhecimento.


Lobo que cuida da matilha


e se afasta para buscar o alimento


A mulher sacia sua alma


com  o pão da convivência ou a presa da solidão.


Se busca eufórica a essência do som,


Dorme o sono de uvas frescas


a se esquecerem na manhã de reclusão


Doce sentimento proibido que


alerta  os sentidos


e se consome para encontrar a sabedoria.


Sábia, a mulher se cala


Em gritos que ecoam na floresta interior.


Quem for lobo, encontra a matilha


E dança sob a lua, que já é cheia atrás das nuvens.


É noite.


Novilhos dormem inocentes na mata


Virgem.









Presente


Atente:


Não perca o instante


A ilusão da linha do tempo


Desnorteia nosso pensamento.



É vertical


O cordão umbilical


Que nos liga a Deus


Passado não há  


Nem futuro


Somos agora


Tão somente


Estamos.


Copyright © Márcia Francisco

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